segunda-feira, 13 de junho de 2011

O MENINO QUE PULOU O MURO

Qual poderia ser a surpresa e espanto de quase todo mundo, quando soube-se que Carlinhos, aluno aplicado e disciplinado, havia pulado o muro da escola para participar das aulas, num dia muito chuvoso e frio, típico daquela época do ano!
Foi descoberto em sua façanha pelo chefe de disciplina e levado diretamente para a sala da direção.
Dali mesmo recebeu a advertência pelo grave evento, registrado também em ficha individual.
Não lhe foi permitido nem mesmo o direito de dar explicações.
Não haveria desculpas. Saltar o muro para assistir aula, onde já se viu isso?
A rotina seria o inverso, saltar para fugir. Até aí tudo normal!
Assim, Carlinhos trazia uma situação nova, e novidade não era algo muito bem vindo dentro dos muros daquela escola.
Agravou a situação o fato de que Carlinhos residia na mesma rua da escola, portanto, ato injustificável, o atraso.
Nervoso, porém calado, ouviu a "sentença" e não questionou.
Pouco adiantaria!
Não foi levada em consideração a sua história de bom aluno e respeitoso aos regulamentos da escola, especialmente aos seus professores, os quais o tinham com bom conceito, muito além da média entre os discentes.
Findo o episódio, no dia seguinte, lá estava ele entre os primeiros a entrar pelo portão principal da escola, ounvindo piadinhas maliciosas de seus colegas e até mesmo de alguns funcionários. E por chegar cedo, mais uma vez levou um "pito" do chefe de disciplina em tom de ameaça. "Tá vendo: quando você quer você chega no horário".
Como não lhe foi dado o direito a explicações, soube-se mais tarde que seu pai havia falecido poucos dias antes, por isso mesmo, após noites mal dormidas não conseguiu acordar no horário habitual e daí a razão do seu atraso.
Confidenciou a um amigo mais tarde, que sempre gostou muito da escola e mesmo atrasado, com o coração aflito pela perda paterna, seu desejo era correr para a escola por se tratar de um lugar que tanto amava.
Muito se falou sobre o fato, inclusive nos Conselhos de Classe, em debates nas salas de aula e até na mercearia da esquina próxima a escola.
Havia muita indignação!
De fato, deve-se questionar se a escola tem garantido um genuíno espaço democrático que se permita praticar valores, experimentá-los e propagá-los?
Estará a escola preparada para identificar abusos que podem causar danos irreparáveis tanto a discentes quanto a docentes?
Mas para quem se propõe atuar no ambiente escolar, deve-se observar aspectos fundamentais de pertencimento, integração, respeito, rejeitando-se ações unilaterais e excludentes a todos os atores do desenvolvimento do ensino já tão fragilizado.
O que dizer quando a única possibilidade de escolha está situada entre o homem que pisa ou o outro que deseja pisar?

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