Cheguei em casa numa dessas quartas-feiras e liguei a televisão para (tentar) assistir a um jogo de futebol.
Como o jogo não estava me agradando, quase não prestava atenção ao evento.
Telefonei a um amigo distante, revi a agenda do dia seguinte, brinquei com minha filha e quando retornei à TV, lá estava o jogo!
Procurei em vão, encontrar outro programa.
Uma emissora transmitia a missa, outra um noticiário a respeito da interminável violência na cidade do Rio de Janeiro, uma outra mostrava um espetáculo de circo. Optei pelo circo! Fiquei por ali, atento e animado aguardando a sequência do “espetáculo”.
Ainda assim, nada agradava.
Voltei, por exclusiva falta de opção, ao jogo!
Por um instante, recordei um velho amigo, escritor, poeta, crítico e eventualmente (para não dizer quase sempre) embriagado, que disse certa vez, em sua soberba inteligência, que eu não sabia assistir a um jogo de futebol, e que, muito menos, entenderia do futebol, praticado atualmente nos campos por este Brasil afora. Insistia na ideia de que eu deveria acompanhar o evento (o jogo), sob um olhar mais lúdico, mais leve, mais compreensivo com aqueles pobres coitados e esforçados jogadores.
Certo ou errado, na lembrança de suas palavras –às vezes, candongas, voltei mais uma vez à telinha, um pouco ressabiado e mineiramente desconfiado!
A partir daquele instante não “arredei pé” da sala de TV nem por um instante sequer!
Minhas gargalhadas, censuradas algumas vezes, estavam a prejudicar o sagrado sono dos vizinhos, pois já era tarde da noite –os jogos de futebol às quartas-feiras começam às 22h!
Minha filha trouxe-me aos modos, primeiro pela barulhada e depois por não entender minha alegria, assistindo a um simples jogo de futebol.
Onde estaria a graça?
Mas era tão engraçado...
Diferente do canal do circo, ali sim, os artistas eram engraçados!
Usavam chuteiras de todas as cores. Realizavam piruetas e tombos espetaculares!
Muito melhor que qualquer programa de luta livre.
Alguns nem se maquiavam. Eram autênticos “caras-de-pau”. Faziam caretas divertidíssimas.
Tinha de tudo: comédia pastelão, apresentadores anunciando para um público no estádio nada esfuziante e muito reduzido. Socos, pontapés, correria no picadeiro e muitos e muitos palhaços para uma única bola. Coitada!
Cambalhotas, dancinhas e cusparadas aos montes...
Outros artistas no bizarro cenário estavam a levantar bandeiras e a soprar apito querendo organizar a festança.
Outros senhores vestidos a caráter, num calor insuportável, tentavam desesperadamente, não se sabe porque, transformar aquela comédia em alguma coisa séria.
No final do espetáculo, alguns palhaços tentaram dizer algo, tão cansados que ninguém compreendia suas palavras.
Havia também um outro artista, que confesso, não identifiquei sua função no show. Um cidadão que ficava atrás de uma linha branca gesticulando e gritando sem parar, sem que ninguém o escutasse ou se importasse.
O “respeitável público”, coitado, muito pequeno, em homenagem aos palhaços, atirava de tudo no picadeiro: pilhas, rádios, sapatos, moedas, chinelos, frutas, até uns saquinhos cheios de um líquido refrescante amarelado.
Mas faltava a cena derradeira do dono do circo, que estava ao microfone tentando explicar aquela palhaçada!
Desde então, seguindo o conselho do meu amigo, não perco mais nenhum espetáculo!
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